Se eu não tivesse sido tão egoísta...

Eu me lembro de você no ensino fundamental. Lembro o quanto eu te achava ridículo e esquisito. Achava você e seus amigos os garotos mais idiotas da escola. Onde já se viu achar graça naquelas brincadeiras tão imbecis? E eu ainda morria de raiva quando minhas amigas achavam você engraçado. Riam como se você fosse o cara mais divertido do mundo. E você me olhava com um olhar estranho, como se eu estivesse escondendo algo das outras pessoas.

O tempo passou e cá estamos nós se esbarrando quase todos os dias por aí, seja no ônibus, nas festas, na rua, ou em qualquer outro lugar que eu estou e você insiste em estar lá também. Parece que faz de propósito. Só que agora você mudou, parece estar tão maduro e responsável. Soube que está trabalhando e na faculdade, por algum motivo fiquei muito feliz por você e pelas suas conquistas. Juro que não sei por qual razão, mas quero compartilhar minhas vitórias com você também.

Tento me aproximar de você. Te encaro olhando nos seus olhos, mas você finge que não me vê. Tenho medo de que talvez você nem lembre mais o meu nome, não lembre mais daquela garota chata da sétima série, que se achava superior às outras pessoas. Sabe, eu mudei. Mudei mesmo, e queria muito que você soubesse disso.

Agora, lembrando da época da escola, fico rindo sozinha das suas besteiras, das coisas que você falava e todos choravam de rir, menos eu. Não sei se é tarde demais pra rir das suas piadas agora, mas não ligo. Tenho certeza que minhas amigas daquela época, se soubessem disso, iriam achar que estou louca e diriam que “aquilo é coisa de criança, que agora crescemos e tudo aquilo é passado, já teve graça, hoje nem tem mais”. Eu só queria que você me contasse suas piadas novamente, e ficaria horas ouvindo você falar.

É uma pena eu ter sido tão arrogante. Me arrependo de não ter percebido o quão bom e divertido era aquela época; se eu não tivesse sido tão egoísta, teria aproveitado mais. Talvez eu estivesse ao seu lado agora e, quem sabe, você deixaria de ser só mais um dos meus amores platônicos de adolescente.