Ela só queria quebrar todos os paradigmas. Era essa a frase
que ecoava na sua mente na última semana. Não todos os paradigmas, mas apenas
alguns. Ou apenas um deles, porque queria provar para si mesma e para os outros
que era diferente. Que tinha opinião, era triste para ela assumir, mas queria
provar que tinha cérebro, que não era mais uma alienada com valores clichês. E
já queria começar pelo final de semana.
Foi um choque para todos os seus amigos, é claro, o que já á
deixava feliz. Era o sinal de que sua estratégia estava dando certo. Foi forte, corajosa e disse não, disse que não
iria sair no sábado à noite. Já esperava que com essa atitude, viria junto uma
enorme quantidade de perguntas, e já estava pronta para responder. Não quero,
não vou, não estou afim. Já estava cansada de todo sábado à noite ser a mesma
coisa. O mesmo lugar, as mesmas pessoas, as mesmas músicas. Seu círculo de
amizade era muito fechado, raramente saía ou entrava alguém. Só queria fazer
algo diferente, ir para outro lugar, conhecer gente nova, ou simplesmente ficar
em casa lendo um livro. E foi o que ela fez, resolveu ficar em casa lendo o
livro de contos que pegara na biblioteca há um mês, e ainda nem tinha tocado no
mesmo, a multa na biblioteca já devia estar enorme, pensou. Aquilo tudo parecia um absurdo para os seus
amigos, como alguém consegue ficar em casa no sábado à noite? Não só ficar em
casa, mas ficar em casa lendo um livro? E ela respondia: “E daí se eu vou ficar
em casa no sábado à noite? Qual o problema? Que lei é essa que nos obriga a
sair no sábado? Ou é simplesmente algo que eu tenho que fazer para ser aceita
por vocês? Não preciso ser aceita por ninguém. Não, eu não vou. Não significa
que não gosto de vocês, mas não vou fazer algo só pra estar inserida num meio
social. Acho isso podre. Só vou quando realmente estiver afim. Não posso fazer
algo diferente?”.
Quando desligou o telefone, mal podia acreditar que todas
aquelas palavras tinham saído da sua boca. Não era possível. Estava orgulhosa
de si mesma, estava imersa daquele sentimento de dever cumprido. Estava feliz
por ter quebrado paradigmas, já não se sentia apenas mais uma na multidão de
alienados, segundo ela. Sentia-se diferente.
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