Sexta-feira.
Saindo do trabalho. Milagrosamente, achei um lugar pra sentar no ônibus. Do
lado dela. Peguei um livro na bolsa, mas era impossível se concentrar na
leitura com ela conversando tão alto. Não tão alto ao ponto de todos os
passageiros do coletivo conseguir escutar a conversa, mas pra mim que estava ao
seu lado, estava extremamente difícil não prestar atenção no diálogo. Dizia pra
amiga o motivo de não ter ido a sua casa em nenhum dia daquela semana. Ocupou-se
completamente desde segunda-feira, todos os dias arrumou algum programa pra
fazer, pra se distrair. Shopping, festas no meio da semana, visitou amigos que há
séculos não via. E o motivo? Tudo pra esquecer ele.
Dizia
que não iria usar nunca mais o facebook. Estava com raiva da rede social, dizia
que era coisa do capeta, que aquilo só servia pra
destruir qualquer tipo de relacionamento. E ao longo do trajeto, foi relatando
sua tristeza pra amiga ao telefone. Ficava no trabalho e onde estivesse conectada
na web pelo celular, pra ver se ele respondia as suas mensagens. Estava assídua,
na esperança e ansiedade que ele a visse online,
que não a ignorasse mais, que fosse um pouso mais atencioso. Estava certa que
só ele podia tirá-la daquele sofrimento.
Ia
contando pra amiga que tinha quebrado a cara mais uma vez, só pra variar. Aos
poucos foi percebendo quem ele realmente era. As juras de amor e todo o resto
prometido não foram válidos nem mesmo no momento em que foram ditas, apesar de
sua ingenuidade ter permitido que ela acreditasse em todas as frases românticas
que ele disse. Gostava dele ainda, é óbvio, mas estava determinada a não se
rebaixar a um nível tão desprezível nunca mais. Dizia que estava precisando
disso, de mais uma vez tomar na cara pra acordar pra vida e se valorizar.
Marcou de se encontrar com a amiga a noite, precisava manter o ritmo de
“festinhas” até esquecer ele. Despediu-se e desligou.
Ficou
ali parada, com a cabeça inclinada na janela. Seu olhar ia longe, como se
enxergasse algo além da linha do horizonte. Acho que sonhava com um futuro
diferente, que um dia pudesse encontrar alguém que realmente a amasse. Ainda
estava entregue a tristeza, precisava passar por isso, mesmo que fosse pela
última vez. Imaginei que em seus pensamentos, ela se perguntava por que havia
sido enganada novamente. E pela sua expressão, acho que continuava perdida
entre suas dúvidas e a angústia daquele momento: Por que se humilhava tanto? Por
que tinha corrido tanto atrás, não só dele, mas de todos aqueles outros
carinhas? Por que tinha tanta pressa de encontrar o amor verdadeiro, tanta
ansiedade, tanta expectativa... Torço pra que tenha aprendido a lição, essas
coisas de “encontrar a alma gêmea” não é tarefa nossa... Não sei se isso é
função desse tal de cupido, ou da tinker bell, mas te afirmo com toda a certeza
no mundo que você pode executar qualquer ocupação que você desejar, menos a de
encontrar por si próprio o tal “amor
verdadeiro”. Essa tarefa é algo muito superior pra meros mortais como nós...
Tenho
certeza que ela decidiu que os dias agitados daquela semana iriam se repetir
frequentemente, sua nova vida se resumiria apenas em “curtir
o momento”. Pelo menos ela iria tentar...
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