Você conheceu
ela no final do último ano do ensino médio. Passou no vestibular e ela não, mas
continuaram a se ver, a trocar sms, e quando se deu conta, já estava chamando
de BFF. A Priscila já era da família. O Bob, seu cachorro, já até sabia quando
ela estava na esquina vindo pra sua casa.
Agora, só ia com
ela pra baladinha do final de semana, compartilhando todos os seus segredinhos,
até aqueles mais íntimos, como o fato de você ter aquela verruga embaixo do
dedinho mindinho do pé esquerdo que ninguém pode ousar saber. Já até tinha
chorando no ombro nova amiga quando você viu o Fernando, aquele que você
gostava desde a adolescência, agarrado
com aquela ruiva numa festa qualquer,
de um sábado qualquer. E era pra ela
que você contava como sua vida tinha mudado depois que você começou a namorar o
Bernardo, como você estava feliz com ele, o novo “amor da sua vida”. Esse foi seu mal, ter confiado tanto.
De repente, você
percebeu que a relação de vocês duas se esfriou. Tinha três fins de semana que
você não a via, o contato de vocês se resumia apenas em sms, e mais do que tudo,
sentia muito a falta dela. Ela dizia o mesmo, que também estava morrendo de
saudades, mas agora tinha conseguido uma promoção lá na empresa onde trabalha e
não tinha tempo pra mais nada. E pra piorar, o namoro de seis meses com o
Bernardo também estava estranho, você vivia se perguntando a onde estava aquele
cara carinhoso e atencioso do começo da relação.
Daí pra frente,
tudo aconteceu. Sua velha amiga Juliana te chamou pra tomar um café naquela
tarde de quinta-feira, disse que precisava te contar algo urgente. Pensou que,
como das outras vezes, a Ju tinha te procurando só pra desabafar, já que desde
a época do Ensino Médio, era pra você que ela vinha pedir conselhos. Ela foi
tentando puxar assunto no carro, enquanto não chegava ao tal café, indo em
direção à parte baixa da cidade. Parou em frente ao “Bufê da Nete”, aquela
espelunca que insistem em chamar de restaurante. Não estava entendo por que
tinham que ficar ali paradas em frente, por que não entravam logo. A Ju estava
no meio de uma história sem pé e nem cabeça, quando você viu a Priscila
chegando e se sentando em uma das mesas que estavam na calçada, do outro lado
da rua. Pensou em sair do carro, ir correndo abraçar à “amigona”, pra matar
toda saudade. Foi aí que outro carro parou em frente à calçada que a Pri estava
sentada. Você conhecia aquele carro... Mais do que isso: sabia muito bem quem
era aquele que estava saindo do carro e logo após beijando a Priscila.
Eu sei, você não
se lembra de mais nada, só se lembra de você e a Pri rolando no chão, umas
pessoas loucas ao redor gritavam umas coisas, e o Bernardo e a Ju tentando
separar vocês duas. Tinha mais cabelo da Pri na sua mão do que seus próprios
dedos, e enquanto você olhava fixamente pra ela, via sangue escorrendo na face
da vadia. Ah, e ainda tem a parte que você partiu pra cima do Bernardo,
xingando o maldito dos piores nomes que vieram na sua cabeça naquele momento de
extremo ódio... Pena, a única coisa que você conseguiu foi quebrar uma garrafa
de cerveja na cabeça dele, sendo que sua vontade era matá-lo.
A cachorra ainda
teve a audácia de te pedir perdão e o safado te mandou flores no outro
dia. Pra você, é óbvio que aquilo não
tinha perdão, apesar de ter adorado a piranha ter se humilhado na sua frente.
Não queria saber
dos dois nunca mais. Dias seguintes a ocasião, saiu linda e poderosa de casa,
com a melhor roupa, a maquiagem impecável, e de cabeça erguida. Dali pra frente
seria assim.
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